segunda-feira, 11 de julho de 2011

Promessa

O que é que se pode fazer, Clarice, com a noite
enquanto o indizível aguarda, lá fora, na infinita escuridão?
O que é que se pode contra o medo e sua antiguidade?
Se a invenção de ser feliz não pode menos que a noite
- essa dúvida sem quando na inquietude da espera –
o que é que se pode contra a morte?
Alegria ridícula viver ofendido e pisado para o extremo de um instante sem piedade.
O que nos acontece, afinal, para esta solidão que não se pode dar, para este medo sem nome?
A marca da ausência atravessa os dias.
E só tu, Clarice, poderias entender este silêncio, esta miséria e este abandono,
essa falta de quem saiba o tempo das sombras
para que eu entenda a noite da vergonha inútil.
Porque tudo é quando se pode
e o que não se sabe existe é sem tamanho.



Márcio Ares. 2009.

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