quinta-feira, 15 de março de 2012

CANÇÃO DE UM ANTIGO VERSO

Se canta nós dois fico satisfeito
Vou embora depois
Com o som que se foi
E você no meu peito.

Se canta nós dois fico descoberto
Uma estrela sozinha
Que sabe outro céu.

Se canta eu fico nós dois
Querendo sem jeito
Você bem mais perto.


Márcio Ares. 2012.

INFINITO ONDE

Escrevo, pra esquecer, um verso
dissonante que eu esqueço pra escrever
e fico pensante sem lugar
o inverso de antes
à força de lembrar distância
e sofrer de pensar
a palavra repousante
eterno recomeço
de não acabar


Márcio Ares. 2012.

DE LÁ PRA CÁ

Todo o papel é pouco e o mundo é pequeno
mais que demais eu não entendo essa torre de babel
linguagem que eu não conheço
estrangeiro povo dizendo feito a gente
tanta falta e sentimento
meu bolso de poucos réis
porque é de poesia que eu vivo e me invento
mas não escrevo o que se perdeu
porque todo o papel é pouco e o mundo é pequeno
e o povo meu não entende
esse dizer que se conta num prédio que se orienta
no desencontro de Deus


Márcio Ares. 2012.

MOSTRADOR

Do relógio que você me deu soltou-se o cavalo.
que agora passeia a loucura das horas.

Salta ponteiro meio dia o dia inteiro.
Deu de saltar meus olhos mais cedo,
no desespero de perder a hora.

Numa dessas, penso que ele se queixe
e, saudoso de Nova Iorque,
sem tardar o tempo ele volte
pra ser um cavalo que se preste
ao tempo em que nele se mostra.


Márcio Ares. 2012.

COMPAIXÃO

Dizer a palavra exata ao coração impreciso
são muitas horas de abraço
e olhares de mais além.

O opaco silêncio do entendimento,
ainda sem a fatalidade das horas,
requer do amor todo o seu ofício, total desdobramento,
um vício que se desdobra
num lastro de querer bem.


Márcio Ares. 2012.