sexta-feira, 30 de outubro de 2015

DESENCORAJADO

No exercício contido e silencioso da minha loucura
reconheço o caminho divergente de outras felicidades.
Meu olhar se curva à mais estranha coragem dos que se aventuram
e sofre o mar parado de angústias ancoradas neste meu pequeno barco.
A liberdade em mim é que não me cabe
e nunca tarda a incessante busca de tudo que eu não sei e nenhum outro homem sabe.
Esse lugar inexato de dúvidas e assombros é de uma dor sem tamanho
onde nem Deus é nome que se imponha absoluto
na incerteza que também ganhou este e muitos outros nomes.
O amor que se entenda seguro desampara o invento de ser mais humano
porque o puro sentimento não aplaca o desconforto insano de não saber
e não entender nunca o desalinho além da curva.
E enquanto viver seja este presente inseguro, ausência de origem, razão ou destino
a loucura se acomoda, entre o risco e a coragem das possibilidades,
e reina, pesado, o silêncio contido da minha desventura.

Márcio Ares. 2014.

CONDENADO


não, não esperei, à janela, pelo meu amor
nem ele chegou à minha porta de cadeados metálicos, madeira de lei e batentes fortes
nunca atendi à visita inesperada, ao sorriso mágico, ao olhar do acaso
fiquei fechado em mim mesmo, na solidão desta casa
sem esperar, jamais, que você chegasse, que você viesse, que você ficasse
e me dissesse o norte da estrada

não, eu não esperei pelo meu amor
e essas minhas portas de muitas grades
serão, sempre, o meu escudo habitual
a razão e a dor do meu fracasso

Márcio Ares. 2015

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

MODERNOS



Com o amor feito sem tamanho
ante o desespero da falta
de uma terra onde a guerra descanse
as mães lançaram nas águas
os seus Moisés sagrados
suas amadas crianças

Parece Deus numa pesca
um menininho à deriva
quem sabe uma grande promessa
um mar aberto que insiste
na terra da salvação

Márcio Ares. 2015.

sábado, 3 de outubro de 2015

INCONCILIÁVEL


Dir-te-ei que o meu amor acabou. E isso não será verdade, bem sei.
Amo-te, ontem, hoje, sempre e mais o tempo de viver o amor.
E seguirei, sozinho, o resto de tanta estrada
a saber-te a  coisa de uma ideia inválida
doida de fazer sofrer

Sim, eu hei de sofrer o entendimento de tudo o que se gasta
no tempo vasto de memórias onde tão bem me querias
com o teu jeito único de me fazer carinhos
que já não me bastam

e embora me entristeça o fato de seguir sozinho
o meu triste fado
dir-te-ei que o meu amor acabou. E isso não será verdade.


Márcio Ares. 2015.