O vento frio resiste além da noite fria.
Ao meio dia da manhã, ele canta por entre as gretas da janela uma canção de gelo. E avança, constante e cortante, para dentro dos vãos que separam as casas, os prédios, os muros e as grades.
Parece avançar para dentro da gente.
A juriti, em seu ninho no galho da árvore que logo ali se avista, além da noite fria também resiste.
Ela não canta, mas não está triste. Avança, feito o vento frio, constante e cortante, para dentro do tempo em que serão filhotes os ovos dos quais não se separa, pousada entre as casas, os prédios, os muros e as grades.
Parece gerar paciência contra o frio.
Talvez nesta manhã em que o galho mais balança, pondo em risco o seu maternal ofício, ela tenha protegido de pena e cuidados as pequenas asas do futuro.
Talvez até parecesse um tanto apreensiva, na minha crença de tamanho e imprevisto frio, carregado por tão impiedoso vento de voz gélida e força quase impossível.
O ninho parece a perigo.
A árvore mal sustenta o galho.
O ninho quase não sustenta a vida.
A coragem de um cuidadoso abraço de asas é que se desdobra ao longo de incertos dias frios, até a hora devida.
Tanto cuidado não foi bastante.
Olhos que depois viram alçaram triste vôo na solidão do ninho vazio, do amor doído em vão.
Sem ovos nem mãe, restaram no galho o arranjo de gravetos e uma vontade bonita, guerreira contra o frio.
Pousou, sem jeito, naquele ninho, a desalegria da vida.^
Ela não canta, mas não está triste. Avança, feito o vento frio, constante e cortante, para dentro do tempo em que serão filhotes os ovos dos quais não se separa, pousada entre as casas, os prédios, os muros e as grades.
Parece gerar paciência contra o frio.
Talvez nesta manhã em que o galho mais balança, pondo em risco o seu maternal ofício, ela tenha protegido de pena e cuidados as pequenas asas do futuro.
Talvez até parecesse um tanto apreensiva, na minha crença de tamanho e imprevisto frio, carregado por tão impiedoso vento de voz gélida e força quase impossível.
O ninho parece a perigo.
A árvore mal sustenta o galho.
O ninho quase não sustenta a vida.
A coragem de um cuidadoso abraço de asas é que se desdobra ao longo de incertos dias frios, até a hora devida.
Tanto cuidado não foi bastante.
Olhos que depois viram alçaram triste vôo na solidão do ninho vazio, do amor doído em vão.
Sem ovos nem mãe, restaram no galho o arranjo de gravetos e uma vontade bonita, guerreira contra o frio.
Pousou, sem jeito, naquele ninho, a desalegria da vida.^
Márcio Ares, 2011