domingo, 11 de outubro de 2020

AH, SE ME ADIVINHAM

 

meu barco náufrago não clama resgate

não manda notícias, não requer cuidados

segue, simplesmente, outros tantos barcos

a caminho do nada

quando muito me cansa o desengano

de quando mergulham tão raso

medindo fôlego e planos

nas alegrias muito minhas

até o oceano dessas lágrimas

 

Márcio Ares. 2020.

 

 

VENCIDO

 

olhei, outa vez, o rastro do meu tempo

e vi que só veio comigo

um pouco de um menino com lágrimas

querendo mil outra  vontades

 

no abandono dessa estrada que me atravessa

rasga-se a poesia cativa

de um tempo quase encantado

 

este caminho de volta já não pode

revelar porque choram calados

caminho e desencanto

essa minha vida sem nada

 

Márcio Ares. 2020.

O MAIS LONGE DA VIAGEM

 

o que eu sou, o que eu vivi, o que eu tenho

é tudo meu, só, nunca de mais ninguém

a inocência perdida no desaviso dos repentes

a alegria concebida com os meus pecados

a ternura endurecida com o horror dos maus

a alegria que chora e que ri

a raiz da cicatriz exposta

as muitas vidas e as pequenas mortes de cada dia

os amores indivisíveis tecidos entre os dias de acaso, destino ou sorte

a rima, o verso, a estrofe que eu rabisco agora

tudo que eu sou

tudo que eu vivi e tenho

e levo comigo, só, sem mais ninguém

 

Márcio Ares. 2020.