quinta-feira, 28 de junho de 2018

ORIGINARIAMENTE


Antes de nascer, tudo era promessa do invento.
O amor não estava aqui desde o primeiro instante.
Antes, o nada, o caos irrespirável, o quente e o frio acontecentes.
Sob a síntese da estrela, o desabitado se fazia planta.
O ar habitou o espaço que descansava no tempo.
Antes, o acaso, a rocha, a poeira, o pó que, um dia, se diria humano.
Houve, até nunca onde, água, vento, placas, nuvens, tempestades.
O céu vencia, quase sempre, os tantos riscos chegantes
até a existência como ainda se chama.

Tardou até que o bicho existisse mais homem.
Ao que veio depois se deram muitas origens.
Deus, também por acontecer, seria a razão de outras tantas.
O certo e o mal-entendido não eram, antes, palavras ditas.
Seres de vontade se inventavam de eterna dúvida buscando.
O que era feio ou bonito também ganhou nome.
Desde muito quando, a incansável busca trouxe luz e enganos.
A dor tomou seu lugar, o medo, o horror, o assombro.

Depois, ou antes, o conceito, a poesia, este pobre verso sem tamanho.
A exata memória desfeita no mais incerto do longe.
O mesmo sem resposta para a dúvida reinante.
E a vida, essa coisa nascida inquietante, perguntando, perguntando, perguntando.
De onde vim para ser o que eu sou até onde ou quando?

Márcio Ares. 2018.