Folhas brancas, pálidas, folhas de pedra
desejam mais que barcos e epopéias
reivindicam as mãos do homem grego
para recomeçarem o mundo
Três mil anos pesam estas folhas
o mármore para as parábolas
de alguns milhares depois
e dor maior ainda
Na falta do norte, mais que nunca,
as folhas querem um recomeço.
Agora, e só agora, depois do amor, da guerra, do futuro
o verso está sozinho no escuro das águas
no fundo mais fundo que o tempo
O escrito quer leme e sabedoria, a ética bebível
a caverna para o exercício das sombras
além da vida, a razão, o Olimpo
outro milhar de ilhas
A dor é mar, princípio, comporta
folhas sem nenhum escrito
folhas brancas, pálidas, folhas de pedra
insinuando-se, nuas,
para as mãos firmes de outrora
o recomeço do mundo
Márcio Ares. 2005.