sexta-feira, 10 de junho de 2011

Amor autoral



Não sabemos o amor, mas o tempo dentro de outro tempo.
E antes, e depois do incerto, o brilho do querer atento,
o olhar que se encontra, o combate que se vence, 
a máscara que se arranja, o sonho que se inventa,
o verso que se aponta, a memória que se pensa,
as horas que se esvaem e o tempo que de novo as enche.

Os amantes de Camilo amaram perdidamente.
A solidão de Marques durou cem anos de ausências.
Os amores tantos de Hollanda se acharam no contratempo.
O amor que atravessa cor de rosa é  muito  Grande Sertão.
O menino leu, escreveu e fez contas de Queirós para um amor sem tamanho.
Adélia disse tantos versos e depois a prosa para o tal amor de mãe.
Fernando fez-se pessoa com as cartas que amavam tanto.
Mary Shelley deu ao monstro a vontade dessa coisa estranha.
Camões amou em verso o fogo ardido sem saber.
Cervantes amou distâncias e a lembrança que ficou.
Li Po se jogou na lua do Rio Amarelo de amor.
Os versos do bom poeta ficaram um amor Drummond.
Vinícius amou fiel nos versos da perfeição.
Amado em nome baiano deixou a falta e o tanto.
O crime fez-se castigo no exato amor de não ser.
As secas vidas tocavam um povo de faltas e ramos.
A ira das vinhas amava uma família sem chão.
Saramago disse o amargo de amar e dizer que não.
A bravura e viagens de Homero fizeram-se amor à guerra.
Esopo foi ao penhasco por amor ao mais humano.
E o amor de um Virgílio idílico anunciou o tempo cristão.

Tanto amar cansa a minha palavra, meu verso, minha desrazão.
Tudo o que demais se sabe é muito pouco, é quase um nada.
Nós só temos o tempo que sabe o brilho do amor de outra gente
nas horas que se esvaem e no tempo que de novo as enche.



Márcio Ares. 2009.


Nenhum comentário:

Postar um comentário