domingo, 26 de junho de 2011

Impossibilidade


Eu sou a criatura de Deus sem piedade.
Reconheço o meu beijo não dado na face da irmã que mais amo.
Reconheço as minhas mãos paradas, sem coragem para o outro, estátuas humanas.
Reconheço a negação de instantes que podiam ser mais de mim,
e a fragilidade dessa alegria respirando cuidados,
feito o silêncio palpitando sussurros asfixiados
de longos dias sem ninguém, sem nada.
Reconheço a minha falta de milagres, a inconsciência do amor doado
e o meu cansaço da imortalidade incompreendida nos pequenos gestos.
Esses momentos de amor negado são o escuro de minha aprendizagem.
Parecem pensamentos vagos, sentimento apenas,
o Deus que se perdeu no pó das estrelas
que um dia, quando eu era pequeno e pobre, me iluminaram.
Eu sou a criatura de Deus sem piedade.


Márcio Ares. 2009.

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