domingo, 5 de junho de 2011

Sobre um porto seguro


Folhas brancas, pálidas, folhas de pedra
desejam mais que barcos e epopéias
reivindicam as mãos do homem grego
para recomeçarem o mundo

Três mil anos pesam estas folhas
o mármore para as parábolas
de alguns milhares depois
e dor maior ainda

Na falta do norte, mais que nunca,
as folhas querem um recomeço.
Agora, e só agora, depois do amor, da guerra, do futuro
o verso está sozinho no escuro das águas
no fundo mais fundo que o tempo

O escrito quer leme e sabedoria, a ética bebível
a caverna para o exercício das sombras
além da vida, a razão, o Olimpo
outro milhar de ilhas

A dor é mar, princípio, comporta
folhas sem nenhum escrito
folhas brancas, pálidas, folhas de pedra
insinuando-se, nuas,
para as mãos firmes de outrora
o recomeço do mundo


Márcio Ares. 2005.
        

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