segunda-feira, 25 de julho de 2011

De volta



A cidade está lá fora, antiga e quieta.
Não sei olhar para ela sem o romance do Chico, Budapeste.
Árvores e telhados e janelas se enamoram de um Danúbio infatigável
muito depois daquela negra floresta.

A cidade e o rio se irmanam um pouco além do meu olhar.
Deste quarto não se avistam todas as grandes pontes, a outra cidade, mercados, mirantes.
Ainda guardado de mim está tudo lá, românticas pedras fincadas, fantasmas de boa fé,
minha alegria quase nada distante.

Feito este fim de tarde, o céu de amanhã há de ser avermelhado e frio.
Eu terei medo, como qualquer homem, à visita de um secular demônio.
Ele atravessará o quarto, me chamará de velho amigo, tocando-me o ombro.
Dirá que, antes do livro, antes do Chico, do sonho e deste reecontro,
aqui estive soldado de Átila, magiar huno, um guerreiro anônimo.

Sob a névoa do tempo e versos sem rumo, vejo, à minha volta,
com o olhar descoberto e um rastro de memória,
a cidade lá fora, antiga e quieta.


Márcio Ares. Hungria. 2008


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