terça-feira, 12 de julho de 2011

Na alameda de um certo Carlos Nunes

Há lugares mágicos que só por meio de amigos da gente tornam-se reais. E há amigos reais que, por serem mágicos, tornam os lugares um pouco da gente.
Lugares de aconchego, original e copiado, onde os domingos são sem tamanho e nos dão fôlego para a pressa das grandes cidades. Lugares que nos dão o ar para a vida que se quer vivida e transparente, cheia de amigos, prosa e poesia. Lugares de cumplicidade.
No recanto de um vale, há pouca distância, e depois da neblina, apruma-se a alegria do encanto. O cenário compõem-se de uma calma infinita, onde o tempo esquece o fim do dia e a gente vai ficando mais gente, ficando mais tempo, ficando, ficando...
Depois das curvas de dentro da serra, e além da serra, a viagem é dentro da gente. A paz é esse pouco de Deus ao nosso alcance e essas horas de encontro com o sentimento. E, para a alegria de um mundo às avessas, onde as memórias só têm o gosto do longe - e para que o instante seja mais pleno – salva-se, ali, um pouco de esquecimento.
Posso adivinhar, nas memórias de meu amigo, um olhar de propriedade sobre si mesmo. Com os pés largados pelo chão, alma livre e coração solto, ele se faz um entendedor de silêncios. Prepara os ritos feito pássaro retomando o ninho, ensaiando vôo até o sossego da razão, num retorno ao tempo antigo de ser feliz além do entendimento.
Ali, descansam as cores, quase à toa, não fosse a força da espécie na pretensão da existência.
Ali, descansa o ator, o homem de negócios, o menino de antigamente. Às vezes, um homem cansado e – muito raro – um homem descontente.
Ali descansa o momento mágico do olhar que ainda sabe o tanto que nos falta e a graça que nos cabe no instante presente.
Há lugares mágicos que só por meio de amigos da gente tornam-se reais. E há amigos reais que, por serem mágicos, tornam os lugares um pouco da gente.

Márcio Ares. 2010.


Nenhum comentário:

Postar um comentário