segunda-feira, 18 de julho de 2011

Desamparo


Nesta longa e fugaz viagem
entrefecho os meus olhos para que os carros corram mais rápido
para que o vento seja salgado
e para que o dia possa nascer como tu o disseste:
a ternura a caminho do mar
em meu coração ainda brusco e selvagem

O amor de não saber entre dentes despe o mistério.
O longe, tão longe, agora mais perto
tornou-se a escuridão indefesa de longos corredores sombrios
e o desespero da angústia das salas de espera.
O que era dilatou-se ao longo da viagem
e nem mesmo tu, minha amada Clarice, o tomaria de volta
sem que se gastasse também o amor da palavra

O céu e a terra engoliram os beijos de minha mãe
e, antes que eu soubesse o que podia tanta dor,
no branco de meu rosto descubro o exato gosto do mar.
Só o vento, agora, faz carinho em meus cabelos
e aquela coisa quase engraçada, horrível dentro do peito,
como o infinito estranho das águas, sabe-se sozinho, quase vivo,
um grande, pesado e impossível cansaço
que mais parece saudade

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