quarta-feira, 28 de setembro de 2011

ENGAIOLADO PELO ACASO

_Amor, o Tony Ramos morreu.
_Quê? O Tony Ramos? Nunca! Morreu nada!
_Morreu, amor, morreu, sim! Insistia a voz do outro lado da linha.
_Como morreu!!!! Eu o vi, hoje, no vídeo show. Tá esbanjando saúde e talento.
_Ah!!?? Vídeo Show??. Não, amor, eu to falando é do Adoniran Barbosa!
_Ah, esse sim!!! ...mas porque é que você ta me contando isso agora!?
_Ué, amor...ele era o seu preferido!!!
_...então você tá falando é do Caubi Peixoto, né não?
Já ficando desesperada, a voz da esposa parecia até esconder uma lágrima.
_Oh, amor... eu to falando é do seu passarinho. Ta aqui, na gaiola, mortinho da silva, tadinho!!!!
_Ah? O Roberto Carlos morreu?
Já quase chorando, num misto de tristeza e solidariedade, a mulher continua, tentando dar aquele apoio moral, típico das horas difíceis.
_Oh, amor, sinto muito!!!
De repente, desconfiada, ela diz.
_Ué, mas você não ta confundindo o nome do bichinho não? Era Roberto Carlos mesmo?
_Eu falei Roberto Carlos???
Silêncio.
_ É Wanderley Cardoso, mulher, é Wanderley Cardoso!
Intrigado, um amigo meu, que é dado a ser poeta, assistia a essa conversa. Seu chefe, que era o esposo a receber a fatídica notícia, preencheu, depois, as lacunas da conversa ao telefone. Contou que tinha, há alguns anos, um passarinho, o Wanderley Cardoso, agora morto. Não o cantor, o passarinho, é claro!
_Vê lá - disse-me esse meu amigo – se isso é nome que se dê a um passarinho, coitado!
Que era bacana, a homenagem, ele até entendia. Mas todo dono que se preze deveria chamar o seu amigo alado de nomes mais dignos a um bichinho dessa espécie. “Biquinho”, “zazinho”, ou “piu-piu”, pareciam nomes mais acertados. E, nisso, eu concordo com ele. . Até que “Peninha” não seria mal, mas pareceu-lhe um pouco demais chamá-los Noel Rosa, Cartola, Nelson Ned, Aracy de Almeida, Carmen Miranda, Wanderley Cardoso!!!!!
Também eu tenho em casa um passarinho. Ele canta e eu fico feliz. Pode cantar como os grandes e velhos artistas, mas, carinhosamente, eu o chamo de menino. E evito os riscos de me confundir. Será?



Márcio Ares. 2011.

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