sábado, 1 de setembro de 2012

QUASE VERDADE


Invisto no vício da pátria, do que o leão me tomou e nunca mais foi meu.
Avanço no ranço do ódio, até a revolução.
Liberdade minha, palavra tardia,
encoberta de ouro e inconfidências na sorte de um outro caminho.

Minha conta no vermelho, o aumento que não veio, o preço do pão.
O canto que desencanta o estribilho, o rumo da prosa que não tem mais rima,
um tal destino sem vida, marcado de muito amanhã,
a palavra que só duvida, o medo que teme dizer não.

Tenho estado em dia com o mundo, em dívida com Deus.
Razão magoada sabe a estrela que se apaga, esperança vã.
E a oração engana o roubo do mel, o pouco brilho da razão
no real concreto que desfaz o céu.

E o leão ruge trombetas, mês a mês, até o amargo do fim.
O que resta pra mim é pouco mais que paixão, é desleixo acostumado,
uma bandeira sem nada, um lema cruel, um tapa na cara,
pátria de um homem marcado, com o que se diz e não diz.    


Márcio Ares. 2012.

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