sábado, 10 de dezembro de 2011

TODOS QUE EU PODIA SER

Muita coisa morreu depois de 64.
Morreram vontades, morreram as rádios, a arte de querer bem.
Morreram poetas, bravos moleques de madrugada, pensando além, sonhando pátria.
Morreram mães e bandeiras.
Irmãos e amigos e avós e amores morreram.

Muita voz morreu depois de 64.
Morreram palavras, poemas grandiosos, morreram canções.
Morreram os bêbados de liberdade e morreram honrosos de dizerem não aqueles que, cedo, souberam coragem.
Morreram, quem sabe, aqueles que amavam, já tão cansados de amor em vão.

Muita força morreu depois de 64.
Morreram abraços, gritos de paz, braços que se ergueram contra.
Morreram a ética e o sossego que, ainda cedo, morreu de fome, aos olhos da vergonha.
Morreram tipos dito esquisitos, morreram artistas, mulheres e homens.
Sujeitos suspeitos morreram tamanho o medo nos ignorantes.
Morreram bons e valentes, morreram gentes como nunca antes.

Muita vida morreu depois de 64.
Morreu a cor no lábio calado, morreram filhos de mães agoniadas, morreu o amor nos que podiam mais.
Morreu a grandeza continental, morreu a ordem de um país verdade cortado de azul e progresso incauto.
Morreram as horas do orgulho inato, morreu o futuro com aqueles atos, morreu a beleza
de um povo audaz.

Muitos eus morreram depois de 64.



Márcio Ares. 2011.

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