sábado, 7 de abril de 2018

TODO DIA


Tenho chorado vendo lugares aonde não fui
velhos amores que eu não pude
vidas de glória que jamais vivi.
Tenho chorado o futuro que me aguarda
o silêncio eterno das respostas válidas
as mortes que não entendi.
Tenho chorado o chão das igrejas, a culpa de querer saber
a razão esquecida no caminho dos anjos
desde o tempo em que eu não sabia das lágrimas vertidas.
Tenho chorado a alegria explícita que algum dia eu quis
não a minha tristeza escondida.
Esta foi chegando com o amor negado, com os sonhos perdidos ou só inventados.
Sim, talvez de uma outra vida ela, essa tristeza irmã-gêmea, tenha vindo.
Mas como se pode oferecer tal destino a um menino que ainda não sabe
que vai, um dia, padecer de uma velhice agoniada
por não ter sido só um menino com o seu sonho, sua alegria mais possível
e uma fé que jamais terminasse?
Talvez outro ser desfeito, fosse ele só um homem, fosse ele só um poeta
soubesse dizer porque faltam
o nome, o engenho, a arte, a mínima ideia do que mais se pareça verdade
para se pensar, por assim dizer, a maciez das almas.
Tenho chorado porque os homens são de aço
e eu sou só um pedaço, miúdo, humano, frágil
de algum sentimento guardado
que dói, sozinho, comigo até não ter mais palavra.

Márcio Ares. 2018.

2 comentários:

  1. Um texto inteligente, sentido, feito com alma... parabéns!!

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    1. Obrigado pelo olhar de carinho para o meu texto.

      Grande abraço!

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