sábado, 7 de abril de 2018

APÁTRIDAS


descoberta, entre os homens de ar fétido e insone,
a mulher negra de grandes tetas negras
pensa alimentar o filho homem de ar fétido e insone
que pensa alimentar-se do amor sem fome
enquanto a morte, incolor, já esquecida de outro nome escandalizado,
vigia, atenta e esperançosamente, a vila rodeada de homens e mulheres e crianças
que já nem sequer são

ao longe, arde o árido nos olhos até muitos outros longes
onde, iguais e mortalmente vigiadas, outras vilas fétidas e insones
com suas parcas crianças, suas negras de tetas secas e seus minguados homens
aguardam o milagre do toque das sirenes que recolham os tanques
e eles possam colher as minas plantadas depois da estação de muitos anos passados
para o vermelho sangue de dentro que os iguala
feito os milhares de outras mulheres, outras crianças e outros monstros
sob a cor do maior mal mais irreal dos homens
que se matam

Márcio Ares. 2018

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