sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

DESPROPÓSITO


Você não sabe o que eu sinto, é verdade, mas finge entender.
Você se basta e me xinga, eu sei, querendo moldar em mim
o que eu não sou de você.

Não posso e não quero ser amargo desse jeito.
Tanta regra leva tempo, não tenho tempo a perder.
Você não sabe o que eu amo, se anjo, demônio ou abismo.
Não quero o certo mais certo, prefiro viver a perigo.

Tem hora que eu sofro tanto e você nem adivinha.
Minha dor tem pouco a ver com a sua sábia poesia.
Tem dias que eu, tão pequeno, mendigo qualquer carinho.
Que autores devo ler? Que palavras quer de mim?
Enxerga a minha retina, o menino dos meus olhos,
meu dilema, meu arco-íris, desafio.
Não leva a coragem que eu tenho, brilho próprio, auto estima.
Não duvida dos meus sonhos, não me queira velho, agora, não me aponta a direção. Deixa eu ir, com a minha sorte, ter o chão do meu caminho.

Seu velho baú de tristeza não sabe a minha vontade.
Não me queira desse modo, não impeça que eu me perca.
Tenho acaso e cicatrizes, acredite, que são códigos do medo.
Mas tenho o elixir da vida, saudade que ainda não veio.

Pode fingir à vontade, eu lhe digo, mas não me pode entender.
Pode até sofrer comigo, lembrando tempos antigos, bem sei.
Mas você não sabe o que eu sinto, insisto.
Nunca haverá de saber.


Márcio Ares. 2011.

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