Eu
teria amado, não fosse o medo. O seu medo de amar comigo.
O
melhor medo de revelar-se, de estar em paz, de correr o risco ou perder o
juízo.
O
medo sem lugar para tanto amor descoberto.
Medo
de amar desmedido.
Reconheço
a coragem da minha idade, também pouca,
e
as mil vontades, ao mesmo tempo, de
viver e morrer de ilusão
o
mais louco sentimento.
Viver
e morrer de amor ou paixão violenta.
Tínhamos,
naquele tempo, um jeito indigesto de aspirar ternuras
para
um tempo futuro, inseguro, torto, incerto.
Um
tempo em que nos jogassem pedras e nos chamassem de loucos.
E
que algum pecado o tempo nos dissesse, não essa culpa,
escuro
ancoradouro de tudo que se perde, o pouco barco de um porto pouco.
Éramos
donos de pedaços de nada, até que nos encontrássemos.
E
se aos olhos do que é de repente, ou por acaso,
aos
nossos olhos amor não se revelasse,
talvez
eu fosse menos que esse resto que lembra
talvez
você fosse para uma outra gente um outro acaso
e,
vazios daqueles melhores momentos,
eternamente
nos sufocássemos.
Hoje,
na solidão dessas horas em que se entende o desencontro da estrada,
sei
do seu amor porque o vi no seu olhar, no
seu gesto mínimo de medo e descaso,
no
seu querer se indo, querendo às vezes que à vida eu voltasse.
E
dói, agora, o sentimento mais doído de nunca tê-la reencontrado.
Se
porque faltou promessa, ou se perderam palavras, ou muito, ou nada,
se
porque não queríamos o que nos assustasse,
ou
se porque Deus adivinhasse pra nós outros desatinos, fogo, brasa,
fiquei
eu queimando faíscas,
cinza
da sua fogueira de coragens apagadas.
Márcio
Ares. 2012.
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