segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

A CRIATURA


      O vestido tinha a cor da libido. Realçava-lhe as curvas e o gesto fino. Andava sobre estrelas contra o céu do meio dia. Era o sol brilhante contra os olhos do querer, a cor do arco-íris andante. 
     Ia, feito a tarde logo faria, enfeitar a paisagem. Mulher de encher um verso na mão da poesia, pássaro sem pressa para a presa sob os olhos da vigília.
      O sujeito, pensando forte mil coisas inconfessáveis, se desacontecia.
     O instante era memória para toda uma vida. O feitiço durou eras de sempre ser recontado. A rua transformou-se em passarela. Ou seria adolescente demais dizer isso desse jeito mais que despreocupado e assim meio que vadio?
      Aquelas pernas sobre aqueles saltos fariam inúteis todos os sinais.
     E quando, mais tarde, no silêncio do seu mais solteiro quarto, ele de novo pensasse forte mil coisas inconfessáveis, a sua vida se descobriria em vão, um quase acontecimento.
     Isso é quando um único momento justifica o horror e as guerras do mundo. Um momento em que Deus pousa, agradecido, sobre a terra e diz:
     _Olha como sou bonito!!!

     Márcio Ares. 2016

Nenhum comentário:

Postar um comentário