O
vestido tinha a cor da libido. Realçava-lhe as curvas e o gesto
fino. Andava sobre estrelas contra o céu do meio dia. Era o sol
brilhante contra os olhos do querer, a cor do arco-íris andante.
Ia, feito a tarde logo faria, enfeitar a paisagem. Mulher de encher
um verso na mão da poesia, pássaro sem pressa para a presa sob os
olhos da vigília.
O sujeito, pensando forte mil
coisas inconfessáveis, se desacontecia.
O
instante era memória para toda uma vida. O feitiço durou eras de
sempre ser recontado. A rua transformou-se em passarela. Ou seria
adolescente demais dizer isso desse jeito mais que despreocupado e
assim meio que vadio?
Aquelas
pernas sobre aqueles saltos fariam inúteis todos os sinais.
E
quando, mais tarde, no silêncio do seu mais solteiro quarto, ele de
novo pensasse forte mil coisas inconfessáveis, a sua vida se
descobriria em vão, um quase acontecimento.
Isso
é quando um único momento justifica o horror e as guerras do mundo. Um momento em que Deus pousa, agradecido, sobre a terra e diz:
_Olha
como sou bonito!!!
Márcio
Ares. 2016
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