quarta-feira, 12 de maio de 2021

SÚPLICA

 

oh, Senhor

para este minúsculo ser que aprende

reforça o meu juízo  do entendimento

acende em meu caminho alguma vontade

 

dá-me o desejo mais escondido

dá-me a chama do orgasmo acontecendo

a vontade súbita dos que traem

o tamanho da fome dos que passam falta

a força mais forte do escravo

 

dá-me a coragem dos punhos cortados

o olhar querente dos ladrões

a vigília incansável dos marginais

o prazer intenso de matar com as mãos

a obstinação dos viciados

 

dá-me o repente das tempestades

a voz das ondas contra as mesmas águas

a ousadia do vento nos redemoinhos

a fome do fogo que devasta

a sabedoria das árvores

dá-me a leveza dos pássaros

 

dá-me a paixão dos cravos da cruz

e a fé nos milagres pra eu viver em paz

 

Márcio Ares. 2021.

domingo, 11 de outubro de 2020

AH, SE ME ADIVINHAM

 

meu barco náufrago não clama resgate

não manda notícias, não requer cuidados

segue, simplesmente, outros tantos barcos

a caminho do nada

quando muito me cansa o desengano

de quando mergulham tão raso

medindo fôlego e planos

nas alegrias muito minhas

até o oceano dessas lágrimas

 

Márcio Ares. 2020.

 

 

VENCIDO

 

olhei, outa vez, o rastro do meu tempo

e vi que só veio comigo

um pouco de um menino com lágrimas

querendo mil outra  vontades

 

no abandono dessa estrada que me atravessa

rasga-se a poesia cativa

de um tempo quase encantado

 

este caminho de volta já não pode

revelar porque choram calados

caminho e desencanto

essa minha vida sem nada

 

Márcio Ares. 2020.

O MAIS LONGE DA VIAGEM

 

o que eu sou, o que eu vivi, o que eu tenho

é tudo meu, só, nunca de mais ninguém

a inocência perdida no desaviso dos repentes

a alegria concebida com os meus pecados

a ternura endurecida com o horror dos maus

a alegria que chora e que ri

a raiz da cicatriz exposta

as muitas vidas e as pequenas mortes de cada dia

os amores indivisíveis tecidos entre os dias de acaso, destino ou sorte

a rima, o verso, a estrofe que eu rabisco agora

tudo que eu sou

tudo que eu vivi e tenho

e levo comigo, só, sem mais ninguém

 

Márcio Ares. 2020.