sábado, 15 de outubro de 2016

O MAIS QUE SE VÊ



no chão deserto dos dias
olhar mais longe é poesia
pedra que se comove

e enquanto a alma descansa
reclamam os olhos o instante
da pedra que mais podiam


Márcio Ares. 2016.

NO EXATO MOMENTO



Poucos serão convidados para a mesa do Senhor.
Dentre os poucos eu te convidarei para partilhar comigo um pouco de amor.
Eu te darei uma gênese, uma tribo, muitos profetas, um filho.
Eu te darei ar, sementes, água, terra, amargo, mel.
Eu te darei anjos e demônios, o bem, o mal, para que escolhas, tu mesmo, os teus caminhos.
Eu te darei um nome, um talento, um lugar à minha mesa.
Sim, um lugar à minha mesa.
Porque és a ideia do meu ventre,
a maior e mais divina criatura.

Alegra-te, portanto, quando falares comigo
sempre que seja sempre a minha grata visita


Márcio Ares. 2016.

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

MORNO QUE EU TE VOMITO


mistura uns dois quilos de vida a um grama de sorriso triste
raspinhas de Adélia Prado a uma pitada de Nietzsche
essência de rosa do grande sertão
uma boa dose de vinho sangue
fermento de versos bem antigos
com a cor da clara dos olhos que vigiam

marca na alma o tempo da espera
depois de untar a forma com o mel da poesia
vê crescer as dores do ofício
e, até o limite do invento mais velho,
come com os dentes enquanto quente ou frio
para que estejas comigo

Márcio Ares. 2016