segunda-feira, 22 de agosto de 2016

DE LONGO ALCANCE



um poema não acaba a guerra
não recolhe os feridos
não explica a morte

um poema não redime a culpa
não condena ao escuro
não pretende julgar

um poema é a coisa da graça, o altar do castigo
um acaso divino, um demônio vivo
um jeito de olhar

um poema tem muitos nomes, palavra diversa, lei, sentimento, mistério
não escolhe a gente a que se destina
deseja a sorte de um outro lugar
celebra a vida, diz nossos mortos
perdoa as horas daqueles que não podem
saber a poesia que o poeta sofre
sofrer a alegria de bem mais amar



Márcio Ares, 2016.

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

AO SER AMADO


essa paixão querente contra o teu querer calado
não curou a minha febre, o mal tempo que passasse
não te fez amor presente
não me fez melhor em nada       

o que eu mal tive contigo
me deixou vida em pedaços
só o vício dos teus olhos
sem o gosto dos teus lábios

Márcio Ares. 2016.

O RITUAL DE SEMPRE


penso, logo faço meus mortos
bem longe de outras razões
ideia se impõe aqui dentro
tem fé no véu dos tormentos
inventa o motivo mais forte
dá norte à imaginação
e explode
e mata
e morre
como se fosse outra gente

Márcio Ares. 2016

terça-feira, 16 de agosto de 2016

ANIVERSÁRIO



este dia chegou e partiu sem dizer a que veio
deixou, mais inquietos e mais febris, homem, mulher, criança e bicho
todos ansiosos com os outros dias por chegar e depois partir
com a mesma inquietude e a mesma febre desta hora
com o mesmo sem motivo que eles sabem e eu também sei
de simplesmente existir

a razão inventada de uma qualquer poesia
existiu antes da verdade que nos matasse
de morte mais violenta que a triste morte
porque dor nenhuma fora respondida
além do dia que chegasse e partisse

Márcio Ares. 2016

domingo, 14 de agosto de 2016

URGÊNCIA



minha inteligência mente quando não fala de você
enquanto o meu corpo inteiro
bem sabe o que sente

é amor você me acontecendo
sob o risco de não se entender


Márcio Ares. 2016

CULPADOS




só o que pode haver entre nós, agora,
é este encontro marcado
nenhum amor, nenhuma dor
nada que possa nos fazer sofrer
nada

se o amor vier a nos acontecer
sejamos eu e você
o acaso da cumplicidade

Márcio Ares. 2016